Crédito: Ramon Bitencourt /ALMG
Deputado Lucas Lasmar entrega título de cidadã mineira à filha de Zuzu Angel
- 09/06/2025 às 14h
- Maya Sangawa
Deputado Lucas Lasmar propôs a homenagem, marcada por emoção, memória e defesa da democracia
Em uma noite de reafirmação dos valores democráticos, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) entregou, na última quinta-feira (6/6), o título de cidadã honorária do Estado à jornalista e ativista Hildegard Angel. A homenagem, proposta pelo deputado Lucas Lasmar (Rede), reconhece sua trajetória na promoção da cultura, da memória e na incansável defesa dos direitos humanos no Brasil.
Filha da estilista mineira Zuzu Angel, Hildegard construiu uma carreira marcada pela resistência: dedicou sua vida não apenas ao jornalismo, mas também a preservar a memória de sua mãe — símbolo de coragem e denúncia durante a ditadura militar — e a lutar por justiça e esclarecimentos sobre os desaparecidos políticos, como seu irmão, Stuart Angel Jones.
Sua atuação no jornalismo, na moda e na preservação da história brasileira a transformou em referência nacional. Criadora do Instituto Zuzu Angel e da Casa de Memória da Moda Brasileira, Hildegard levou ao debate público a importância da identidade cultural como instrumento de luta e conscientização.
Durante a cerimônia, o deputado Lucas Lasmar destacou a coragem e a relevância do legado da homenageada:
— “Hildegard representa uma voz essencial na defesa da memória, da cultura e da democracia. É uma mulher que transformou sua dor em luta e seu trabalho em instrumento de resistência. Minas Gerais reconhece hoje essa contribuição inestimável ao país.” Em um dos momentos mais emocionantes da noite, Lasmar declarou:
— “Você, Hildegard, fez nascer uma nova forma de esperança — com dor, mas também com beleza.”
A jornalista também se emocionou ao receber o título:
— “Hoje eu nasci de novo. Eu sempre me senti mais mineira do que carioca. Minha família é toda mineira. Nossa casa no Rio era uma filial de Minas Gerais. Ser oficialmente mineira é como retornar às minhas raízes.”
Hildegard relembrou a trajetória de sua mãe, Zuzu Angel, curvelana que usou a moda como forma de protesto durante a ditadura militar, após o assassinato de seu filho Stuart Angel:
— “Quando minha mãe foi assassinada, foi difícil acreditar que matariam uma mãe de família só por denunciar a morte do filho. Mas ela teve coragem. Ela fez da costura um grito. Em 1971, pela primeira vez na história, usou vestidos como instrumento de denúncia política contra a ditadura.”
A deputada Leninha (PT), vice-presidente da ALMG e presidente da cerimônia, também exaltou a luta de Hildegard:
— “Se sua mãe e seu irmão foram silenciados, você escolheu dar voz à resistência. Abraçou essa luta com a mesma fibra e coragem. Minas Gerais tem o orgulho de abraçar aquela que se tornou mineira por escolha.”
A cerimônia ganhou ainda mais significado diante das recentes declarações negacionistas do governador Romeu Zema, que, em entrevista à Folha de S.Paulo, colocou em dúvida a existência da ditadura militar ao questionar o uso de indultos. As falas foram amplamente rechaçadas durante o evento.
— “Enquanto alguns tentam apagar a história em troca de curtidas, nós, do Bloco Democracia e Luta, reafirmamos: ditadura existiu, e a memória é inegociável”, afirmou Lucas Lasmar.
Hildegard também reagiu:
— “Não devemos nos indignar com os pequenos. Devemos nos concentrar nos grandes objetivos. Quem desconhece a ditadura ou Adélia Prado, desconhece o próprio Brasil.”
A solenidade reuniu autoridades e personalidades de diversos setores, como o prefeito de Ouro Preto, Ângelo Oswaldo; os ex-deputados Nilmário Miranda, Maria Elvira e Sávio Souza Cruz; além da reitora da UEMG, Lavínia Rosa Rodrigues. Jornalistas, familiares, amigos de Hildegard, bem como vereadores de Curvelo — cidade natal de Zuzu Angel — também prestigiaram o evento: Carlim da Lotação, José Rafael Costa, Mauro dos Santos Gomes e Douglas Veríssimo Gonçalves, reforçando os laços afetivos da homenageada com Minas.
Ao final, visivelmente emocionada, Hildegard declarou:
— “De Minas veio o senso de soberania do Brasil. Foi aqui que nasceram os inconfidentes mineiros, que acreditavam que o país podia ser independente. Esse é o exemplo que temos de seguir — o exemplo dos inconfidentes, dos insurgentes, dos inteligentes. Eu estou muito feliz de ser mineira. Eu me sinto tão mineira.”